Anécdotas das regatas para não esquecer de repóker em repóker de lembranças (2)

Nautica Digital Europe Moebius

Anécdotas das regatas para não esquecer de repóker em repóker de lembranças (2)

Nós os propomos um jogo com as memórias... vamos publicar anedotas alecionadoras ou até simpáticas, que não ofendam a ninguém... e que quando se pudesse cair nesta possibilidade evitaremos dar nomes... é nossa história e estimamos que será uma contribuição interessante, amena e provocará alguma que outra carcajada... e muita saudade ATAQUE!.... E POR SUPOSTO ADMITIMOS VUESTRAS HISTÊNCIAS...

Julho 2021, Moebius

6. LOUIS VUITTON CUP 1992... DIRE STRAIT, OLMEDO, ZULUETA E CALVO SOTELO

Durante a Regata Geral Optica, em 1989, saltou uma notícia... que naqueles anos era uma ilusão simples. O Monte Real Club de Yates de Baiona, da mão do DECA cujos parceiros fundadores eram Pedro Campos, Juan Carlos Rodríguez Toubes e Luis de la Peña... anunciava ante a surpresa e espanto de próprios e estranhos, que havia apresentado desafio pela Copa América.

Após dois anos de intenso trabalho e não poucos problemas, em 1991 a expedição espanhola sob o nome de ESPANHA 92 QUINTO CENTENÁRIO se instalava na baía de San Diego... e é que duas altas personalidades o haviam feito possível com seu apoio: Don Juan Carlos I e o presidente González.

A visão de ambos, ao apostar num projeto que colocaria a Espanha entre a elite empresarial mundial, juntamente com um grupo de países eleitos: a Austrália, a Nova Zelândia, a França, o Japão, a Itália, a Suécia e os Estados Unidos como defender... foi um acerto com uma rentabilidade a nível do Estado... incrível.

Houve dezenas de anedotas... mas vamos relatar três só nesta entrega... a primeira acontecia na festa que dava o empresário Bill Koch, cujo “America’s Cup” ganharia a Copa da América... o bilionário americano que valorizava sua fortuna atualmente em cerca de dois mil milhões de dólares. Pois bem Vocês a quem contratou para amenizar a festa em que estiveram as tripulações em uma de suas fazendas?... pois a DIRE STRAIT... e isso que Koch não é de Bilbao.

No mundo anglo-saxão, no que a vela se refere... a máxima autoridade de um clube náutico não é o presidente... É o COMODORO. Pois bem o problema que se apresentou era que quem convidava os atos oficiais não era Rafael Olmedo como presidente... mas a Estanis Durán como comodoro... e que tivemos que fazer?... pois comunicar que RAFAEL OLMEDO Havia dimitido de presidente e era o novo comodoro... picardia tipical Spain...

Depois já no sorteio oficial da Louis Vuitton Cup no San Diego Yacht Club, houve um fato muito emotivo... que a não poucos fez que nos saltaram umas lágrimas de emoção. O apresentador em um ato de nível Hollywood, apresentava o país que competia... e depois soava seu hino nacional.

E chegou o turno da Espanha. No espetacular painel figurava em grande ESPANA... seguiu-se o roteiro escrupulosamente e o apresentador mencionou nossa equipe, esportistas, designers e quando acabou sua intervenção deu turno à banda de música (da Marinha Americana)... nisso AGUSTIN ZULETA deu um grito e pediu que não sonara o hino... aproximou-se de um rotulador preto na mão e colocou a tilde à N... e no painel passou-se a ler ESPANHA... e tocou o hino nacional. Emocionante.

Por último, outra nota também muito simpática. Era a primeira regata da Louis Vuitton Cup, na qual mediam AUSTRALIA e ESPANHA. Em cada navio foi permitida a figura do «invitado» e Espanha tinha no seu tio de Pedro Campos, ao ex-presidente do Governo de Espanha LEOPOLDO CALVO SOTELO.

Nas instalações de ESPANHA que estavam anejas às do AMERICA3 por certo, havia muitos nervos, muita gente e muita ilusão... eu vi chegar a Leopoldo e o comem a Frederico Arias e Miguel Angel Roselló: «A cagado, com este gafe abordo palmamos seguro»... este último me disse «creo que Leopoldo te ouviu»... e eu lhe senti importância, com um seguro que não.

E a regata acabou, tornando-se algo histórico ESPANHA GANO A AUSTRALIA... sendo escoltado nosso barco por dezenas de milhares de vozes (a gente falou de mais de 50.000 espectadores na água e em terra) ao ritmo de uma canção (versionada dos Beatles) que estava de moda Os Manolos...

Chega a Espanha 92 Quinto Centenário à Base de Espanha... dirige-se a mim Leopoldo Calvo Sotelo e me diz tudo sério: COMO PUEDE COMPROBAR NO SOY TAN GAFE, e me deu a mão com um sorriso cúmplice...

7.CUANDO O PLOMO ES MADERA PINTADA COM PORPURINA GRIS PLATA

Semana Náutica do Porto de Santa Maria estamos em 1990... imediatamente antes se tinha celebrado o Grand Prix de Vela Baileys que ganhava o Duque de Arión com seu três quartos de tonelada «Larios» do Real Club Mediterrâneo de Málaga... o prêmio uma garrafa de Baileys de tamanho natural Ouro de 24 km! fabricada por Malde na Corunha (com mais de 1 quilo de ouro).

Estamos na jornada de medições, e um jovem Jesus Tornero habitual nestas lides nas regatas do Monte Real de Baiona... é contratado por Nicolau Terry como um dos medidores da que era então a regata mais importante de Espanha... Copa do Rei incluída.

Começam os trabalhos de medição e Jesus Tornero detecta algo anormal nas verificações a um navio, muito de regata por certo... ao notar muito raros «Os lingotes habituais de chumbo colocados no interior, para melhorar os resultados da medição»... nem curto nem preguiçoso Tornero fez o teste do «clavo», e quando é sua surpresa que o chumbo do lastre, permitia penetrar a um prego sem grande esforço.

De imediato, informou-o a Nicolau... e já é sabido o amor de Terry pelo jogo limpo e a independência de juízes e medidores na vela... saiu como um foguete de seus escritórios em Porto Sherry em busca do «tramposo»... e quando é sua surpresa e a de Jesus... que o navio infrator havia empreendido a huída para Cádiz... a tudo o que dava sua máquina...

8.NO ESTA BIEN MALGASTAR O MOÉT & CHANDON... NI QUE DISPAREN OS JUECES

Estamos em 1985, estamos na Regata Le Figaró... em sua primeira chegada a Baiona.

Um ano antes Eric Tabarly em pessoa, abordo de seu Penduick VII, havia se apresentado no Monte Real de «espía-informador» o legendário Michel Malinowski, e parece que o relatório foi esplêndido... porque aos dois meses um alto executivo do rotativo parisiense Jean Malleret Começava as negociações com o Clube de Yates de Baiona, que chegaram a bom fim.

Havia-se posto de moda no Clube de Rafael Olmedo (como no Marítimo de Santander) o dar as chegadas das regata importantes, com cañonazo... em plano vintage.

E assim foi... em agosto, os 50 half ton que participavam na regatas de solitários Le Figaró, começaram a chegar à Villa da Pinta... com Philippe Poupon em cabeça...

Mas claro 50! e a chegada alargou-se até à madrugada, não em vão vinham de uma etapa de 550 milhas nada menos... e os juízes entre os que estavam Jesus Tornero, Jorge Alonso e Púas Retolaza, fruto do cansaço pela larguíssima jornada... não tiveram outra ideia que carregar em plano gamberrada ao cañoncito de bronze, outros cartuchos diferentes aos de salva... o que provocou que vários padrões piropeassem aos três juízes, com carinhosos «cochon», «connard»...

Já no dia seguinte, tinha lugar a entrega de prêmios, e Guindaste Retolaza Quando Poupon escolheu seu prêmio adornado com Moët Chandon... tirou-lhe uma das garrafas e salpicou com jato champañero incluído: ao prefeito de Baiona, ao representante da Xunta e ao próprio Malleret... E é que o Púas é muito Púas... e como o de selvagem, vem de muitos anos atrás.

9. DENTE DO CAN-SALSEIRO UMA VIEJA AMISTAD QUE VIENE DO GONDOMAR DE 1980

Quinto Troféu Conde de Gondomar... verão de 1980... o do experimento da regata de altura a Póvoa do Varzim (baixada, virada frente à praia e subida).

Em saída um superbarco... o Swan 441 Moonduster com o lendário Dennis Doyle de armador e padrão... de rivais bons barcos a outro nível, caso do Lanzal (C&C 37, que foi Foula posteriormente), os Contention 30 (Xeito e Ardora), o Contention 33 Dente do Can, o Salseiro que era um belo mas estranho barco de regata... a cavalo entre half e quarter ton... o Cutty Sark outra média com uma tripulação de sonho: Gándara, Campos, Lastra... o Holland Media Tonelada Silver Atlântico de Rudy Burmester e Antonio Serodio à cana... os Elvstrom Half Ton Vento e o Pairo Dois, o Galerna de Manolo e Julio Rodríguez... e o bellíssimo Morgan 37 de Rui Salgueiro... o Falke e até o Cirrus que era um três quartos que armava Alberto Alvarez... o Carina. Eram cerca de 20 bons barcos de competição.

Esta regata teve várias e boas anedotas... que vamos contando pouco a pouco... e uma que pôde acabar em tragédia, o que felizmente nunca aconteceu.

Era metade de agosto. Nos primeiros dias havia-se celebrado a Regata Rías Bajas, como mandam os cânones... coincidindo com a Semana Grande de Vigo, com as Festas do Cristo da Vitória... depois chegaram os barcos da II Lymington-Baiona que o Monte Real organizou no mítico RORC londrinos com aquele 80 pés britânico (o Ocean 80 Greyhounden)... em que navegaram nessa regata três espanhóis... Afonso Paz Andrade, Jacobo Fontán e José Manuel Piñeiro... e como sobremesa o Conde de Gondomar com alguns navios britânicos ou irlandeses, como o citado Moonduster.

Tudo foi bem nas duas primeiras mangas... mas a última era a de Póvoa: quase 100 milhas a metade para baixo e a outra para cima... e o vento nos jogou a todos uma ruim passada: nortada com 25 nós no melhor dos casos, e rachas de 30-35, ou ainda mais.

Produto disso foram os constantes acidentes e rupturas na frota. A saída havia sido perto do meio-dia... e já ao filo das seis da tarde, nos dão um relatório o barco da baliza de Póvoa: Primeiro vira o Moonduster! e não vemos ninguém mais... que vento têm?

Depois de uma hora ou talvez mais, nova chamada para o antigo escritório do Clube de Yates: viraram o segundo e terceiros barcos, por esta ordem: Cutty Sark e Pairo Dois... porém a preocupação era patente na Organização, pois as condições de vento e mar eram duríssimas... houve barcos que optaram por ficar na cidade portuguesa de Póvoa do Varzim e se retirar... que foi o que fez entre outros o Pairo Dos... mas os houve que continuaram em regata.

Entre eles o Contention-33, que tinha levado o nome de Chubasco em um mundial de três quartos, e que desde há pouco era o Dente do Can, de Julio Pedrosa, Antonio Blanco, Modesto Rodríguez Branco e outros amigos que tinham uma espécie de sindicato regateiro... o outro o citado Salseiro Manolo Branco.

Pois bem perto de Póvoa que marcava o equador da regata... ou seja ao sul da desembocadura do rio Miño O vento continuou subindo até os 35 ou mais nós, e apesar da destreza e veteria da tripulação herculina... O Salseiro ficou sem governo depois de uma situação angustiante... sua sorte é que os cavaleiros do Dente, não hesitaram nem um segundo... se retiraram e resgataram o navio do Real Club Náutico da Corunha... para levá-lo rebocado até o porto da Guarda... depois de 8 horas de um duríssimo reboque!!! .

Entre as duas tripulações nasceu tal amizade, que até hoje perdura depois de mais de 40 anos... uma amizade que nunca desaparecerá.

O último barco a atravessar a linha de chegada na Torre do Príncipe, era o Falke... e fazia-o com muitos problemas pelas quebras que colecionou... às oito da tarde... muito justo para assistir ao encerramento de um Gondomar, para heróis.

10.EL CHS... SERIO?... FRANÇA E INGLATERRA DABAN UM RATING DIFERENTE PARA UM MISMO BARCO

La ANC em vela era a Associação Nacional de Cruzeiros... que já nos 90 se tornou a RANC... por aquilo da realeza. Sua vida se baseava em que era a autoridade da vela pesada na Espanha, e em consequência emitia os rating IOR. Tinha a sua sede no Moll de Espanha, ao lado da central da lendária Velera Marsal.

Um dia com Arturo Delgado de Presidente e Gerardo Pombo de chefe da Fede... realizou-se uma assembleia em Barcelona, com motivo do Salão Náutico... que decidiu que a RANC se convirtiese em algo meramente decorativo, ao perder o de autoridade, e deixar de emitir os Certificados IOR.

Anteriormente o Monte Real Club de Yates havia posto em marcha o conhecido como CHS... iniciais de Channel Handicap System... teoricamente era muito simples, mas que ofereceu dados muito particulares e sobretudo suspeitos.

Por uma parte a RANC o denostava por ser um churro (não faltava razão), mas após a perda do IOR e em consequência do moderno IMS... viu no CHS uma fonte de renda e José de Vallés que era um furibundo inimigo do Channel... se tornou seu defensor a ultranza...

Pela outra não poucos armadores... que vendiam o que eram amadores mais puros do que o Baron de Coubertain, declaravam ao obter o CHS... com a intenção de alcançar um bom rating... que não usavam spinnaker!... e ato seguido utilizavam três diferentes em uma regata... e isso que movia-lhes exclusivamente o competir...

Por fim, a mais surpreendente: se um navio pedisse uma classificação via londrino... ou seja pela inglesa... o fator oferecia um número, o rating final... mas olho se o solicitava à UNCL francesa era outro, e às vezes muito diferente.

Foi especialmente curioso como os de Asterix protegeram aquele One Design de Jeanneau que na França tinha um TCF de 0.985 e que, no entanto, para os meninos de Alan Green no RORC britânico tinha de fator 1.020.

Desde então a maioria não sabeis do Channel... mas se vocês sabem que multiplicar o tempo convertido a segundos por 0,985 em vez de 1,020... muda algo... né?

(Continuará)

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