
Já nos deixou Afonso Paz Andrade, um dos grandes do mar desde sempre
Já nos deixou Afonso Paz Andrade, um dos grandes do mar desde sempre

Sua paixão Galiza, sua vida o mar (Foto da WFE de Indústrias Pesqueras)
Lembro-me como se fosse hoje quando conheci pessoalmente Afonso Paz Andrade: elegante, requintadamente educado, cultíssimo, com muita classe... os que éramos admiradores de seu pai o memorável Valentim... e vivemos aqueles anos em que os estudantes falávamos no Santiago dos 60-70 do Partido Galeguista... de Seoane, de Castelao... nos sentíamos de um modo ou de outro ligados à família Paz Andrade, à qual admirávamos.
O encontro foi nos escritórios de Pescanova... o motivo muito simples: a empresa em que trabalhava dentro da pesca ficou sem seus navios emblemas... ao ser charteados por aquela Pescanova propostante sob o comando de outro dos empresários essenciais da Galiza do passado século: José Fernández López... e procurava trabalho.
Afonso me tratou como tratava seus amigos, assim me considerou desde o primeiro momento... e nunca me posso esquecer que o que sou atualmente, seja muito ou pouco, devo-se essencialmente ao seu apoio e à sua amizade.
Eu vio em minha coisa especial para trabalhar na náutica esportiva, e me ofereceu ser o gerente do Monte Real Club de Yates de Baiona, no qual entrei no início de 1980 e estive nele até 2000. Sob a batuta de Rafael Olmedo, com toda sua Junta Directiva, e claro Paz Andrade em primeira linha, o Club se tornou não no mais belo (que já o era) mas em um dos clubes señeros da vela internacional, fazendo honra ao seu sobrenome de então desaparecido atualmente: Monte Real Club Internacional de Yates.
Mas seu amor ao mar não ficou em sua condição de conselheiro delegado da Pescanova, nem na de vice-presidente do Monte Real. Em uma de suas empresas, Ibercisa, foi dos corajosos que apostou pela náutica, comercializando barcos de competição como os Contention ou os DB-1, representando em Espanha uma das velerias de maior prestígio a nível mundial: Hood, ou importando roupas náuticas de países tão distantes como a Nova Zelândia ou a Austrália. E perfeitamente, que o fazia porque a náutica arrancava em Vigo, na Galiza... não pelo negócio puro e duro... porque daquela distava muito de serlo.
Não satisfeito com o dito, atreveu-se a relacionar o Monte Real com o clube mais importante do mundo: com o Royal Ocean Racing Club... o RORC. Mas não ficou aí o tema, pois organizou duas regatas Lymington-Baiona e uma Cork-Baiona... e também as relacionou com sua regata preferida, ao Troféu Conde de Gondomar... um lendário troféu que ganhou quatro vezes consecutivas! com seus temidos e temíveis Ardora que teve em sociedade com o também desaparecido Julio González Babé, com o qual mantinha uma grande amizade.
O Ardora que começou sendo um Puma 26 e acabou em um DB-1... teve tripulação fora da norma, como Jaime Arbones (ex presidente do Real Club Celta e pai do excepcional proa o Libio), a Fernando Massó, a Fernando Escalera, a Miguel Lago, a José Eraso, a Gonzalo Romero... entre outros... que navegaram nos dois citados, bem como nos Contention-30 e Contention-33.
O maior atrevimento esportivo foi a vitória em sua categoria no Troféu Conde de Godó em águas de Barcelona 1979, que causou sensação naqueles distantes anos.
Sua encantadora esposa, a britânica Elisabeth Taylor... ajudou-o em não poucos eventos com corte de sabor à Galiza... me lembro especialmente das várias edições da Feira Mundial da Pesca, bem-sucedidas para Vigo e para toda a indústria pesqueira da Espanha... e dentro delas quando conseguiu que a Banda Real do Palácio de Buckingham, realizou um histórico passacalles viguesas fazendo soar o "Pasadoble de Ponteareas"... incrível.
Poderia estar muitas horas falando de Afonso Paz Andrade, e de seu amor à Galiza, seu amor à mar profissional, seu amor à náutica, seu amor à vela ou mesmo à hípica... hoje nos deixou de um modo tão inesperado que nos ficou muito surpresos e tristes.
Tenho de agradecer às dezenas e dezenas de amigos que me chamaram na tarde de hoje, para me informar da desgraça e me lembrar que eles sabiam que era um dos meus melhores amigos...
As campás da bela Erizana replicam para descansar em paz meu amigo, nosso amigo... Afonso Paz Andrade.
Manuel Pedro Seoane Cordal
Editor ND
Redactor de Indústrias Pesqueras 1982
Gerente do MRCY Baiona 1980-2000
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