Quando o Barça e o Madrid estiveram prestes a ter um barco de regatas
Quando o Barça e o Madrid estiveram prestes a ter um barco de regatas
Quando o Barça e o Madrid estiveram prestes a ter um barco de regatas
Os finais dos 70 e começos dos 80, foram peça fundamental da Espanha moderna... desde a entrada em cena de uma constituição democrática, às primeiras eleições livres, à tentativa de golpe de Tejero ou à conquista do poder dos socialistas... tudo eram novidades...
A sociedade espanhola via muito próxima a sua entrada na Comunidade Europeia... os ventos de modernidade e de liberdade aprenderam por todo... e a náutica não foi alheia a esta «movida» histórica que queria arquivar a Espanha em preto e branco.
O que foi o ponto de encontro e que hoje os independentistas enviaram ao contentor do lixo: o Salão Náutico de Barcelona... era o crissol da luta pela superação, era a oportunidade anual para a vela espanhola de se reunir, era a oportunidade para mudar impressões, era a oportunidade para as grandes novidades e em definitivo para seguir superando o velho listão.
1980 já havia sido revolucionário na inesquecível citação catalã, com a irrupção do "windsurf"... com uma exibição de Bic que nos deixou a todos boquiabiertos. Soplavam novos ventos e com que força!... as operações de compras de barcos eram constantes... as competições de pós-im apareciam por todo o lado... Quem não se lembra da apresentação em sociedade dos projetos seriados de Van de Stad com o nome de DB1?... nasceu a febre dos «três quartos de tonelada» em virtude de um pedaço de mundial que se aproximava em águas do Mediterrâneo... em Denia.
Por Galiza não éramos alheios à grande movida que começava. Francisco Quiroga Apoiado por José María García Lastra e através dele Pedro Campos, e de um jovem Javier da Gándara punham em órbita ao estaleiro ferrolano de Astafersa que tinham ao que fora conselleiro com Manuel Fraga: a Juan Fernández.
Em Astafersa Vários três quartos de tonelada foram construídos com design de Dubois: caso do «Armeigín» ou os «Espantallos» Salvador Barreiro, o «Mastia»... assim como os "one ton" «Sirius II» por encomenda da Marinha e «Halcón Negro» Ricardo Cruzado... a meia tonelada «Xeito de Antas» ou catamarrão «La Santa Maria», por dar alguns exemplos... assim como uma tentativa de monotipo gallego, que nacia com muita força... mas que se autoguia... produto de que cada nova unidade botada era diferente da anterior... loucuras da época.
A nível de publicações náuticas havia duas revistas poderosas: a do inesquecível Nino Beguetti Com base em Barcelona... «Yate e Motonáutica» e a que tinha base na capital da Espanha, editada por um grande público santanderino e uma das melhores pessoas que conheci: Frederico Arias... «Bitácora». O trio era completado como não! por um dos mais brilhantes lutadores da vela espanhola, como é Henrique Gómez Curt.
Eram rivais, mas como dizia García, deixo o dado!... todos tiravam do carro no mesmo sentido. Em Madrid, o trabalho de equipe de Frederico, apoiado por seu "costilla" Carmen, sua irmã, Afonso Jornada e Díez Merry, Fernando Roca, Ignoto, Nicolau Terry, Fernando Castiñeira, Miguel Angel Roselló, eu... e sobretudo por causa de tudo por causa de José Ramón Guimerans... começava a brilhar.
E chegava o ano de 1982, mágico pela aparição de González, do Mundial, da ilusão por estar dentro da CEE... criando uma vontade de viver, uma ilusão tremenda em todos os espanhóis. Da mão quanto à ideia de Jordana e minha nasce o que seria a Regata Volta a Espanha... que é apresentada na Cena Anual do Monte Real Club de Yates de Baiona nos Natales daquele ano e que desde o início é apoiada, sobretudo na Galiza (da mão do Monte Real), na Andaluzia (Nicolás Terry e Juan Pemán) e Catalunha (Toni Tió, Jan Santana, Javier Visiers e Enrique G.Curt).
Em que era a primeira edição se consegue o objetivo de alcançar um sucesso razoável, o que não era pouco... e já em 1984 o realizado pela TVE foi espetacular... aquela programação às 21h30 na 1 de TVE fez com que a vela subiera como a espuma. Obtiveram-se rentabilidades como a do «Pescanova» com mais de 20 milhões de pesetas de avaliação!, a do "Banco Atlântico" superava o número e, claro, a do "Fortuna"... mas foram cometidos erros e graves, e toda a ilusão gerada se tirava pela borda...
TVE havia cobrado o número de 75 milhões de pesetas por emitir os mais de 20 espaços de 10 minutos em «prime time» em sua primeira cadeia... mas vos aseguro que foi o maior negócio que a vela espanhola fez na sua história... amén dos benefícios para a Organização, estiveram as quantidades importantes de patrocínio que foram alcançadas para os numerosos navios participantes... todos saímos ganhando...
Mas a ganância quebrou o saco, e a manipulação de alguns depois das câmeras para obter benefícios adicionais, provocaram um mal-estar ao alto nível... pois o tema chegou ao Congresso e TVE pôs fim à experiência... isso perjudicou outros projetos... e é claro ao desenvolvimento da própria Volta a Espanha.
Ante a recusa do Ente a negociar, a Organização colocou em cima da mesa o pagamento do duplo para 1984: ou seja de 150 milhões... Mas a oferta não mudou a postura de um irritante García Candau, então máximo responsável pelo assunto. O grupo dirigido por Frederico e José Ramón, iniciaram gestiones para ainda poder oferecer maiores números, em anos sucessivos nos que não "hubo televisão" e uma da maiores empresas espanholas do jogo esteve prestes a assinar... mas colocava como condição "televisão".
Por momentos parecia que os grandes “quanos” apoiavam o projeto ambicioso de Guimerans, ou seja da todopoderosa Dorna... mas ao faltar o apoio televisivo tudo ficava em nada. Houve mesmo momentos que parecia que o projeto de «barcos por comunidades» que tinha começado com força em 1984 com os «Cataluña», «Andalucia» e «Principado das Astúrias» cuajaria... se adequando à possibilidade real de que o Real Madrid Fornecer sua valiosa imagem para um navio e o Futebol Clube Barcelona a outro...
Para a vela profissional que teria cristalizado o projeto com os dois mais emblemáticos clubes de fúbol do nosso país, era um sonho... do que logo despertamos e tudo ficou em ilusão, em muita ilusão.
A porta de TVE não se abriu e todo o grande circo se veio abaixo... os mais veteranos não podemos esquecer aquelas gambadas de profissionais alheios à Volta a Espanha que depois do telão provocavam que marcas de tabaco, de bobinas de fotografia ou simplesmente que carregavam as tintas em barcos patrocinados em concreto... um autêntico terremoto... e já sabem o que acontece quando se passa de 8 na escala de Richter... como dizemos na Galiza... «Se vai tudo ao caralho». Que pena!
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