Com o Milmi chegou a revolução à vela (9a Entrega)

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Com o Milmi chegou a revolução à vela (9a Entrega)

E estamos em Baiona na segunda parte daquele inesquecível 1990, ano muito especial para o Monte Real Club de Yates, que conseguiria organizar com sucesso um dos mundiais level class, mais emblemáticos da história recente da vela pesada: Quarter Ton Cup.

A reta final mundialista começou em Monte Real com a Regata General Optica, quando a empresa catalã acaba de ser adquirida pela multinacional inglesa Benson & Hedges, que tinha por presidente um entusiástico cruzamentorista e armador, que adoravam as regatas... uma chamada de Juan Coma, que era o diretor comercial da empresa na Espanha, comunicava que tinha previsto aproximar-se da Baiona e navegar na Regata, se isso fosse possível... e claro que melhor anfritrão do que o inesquecível Rafael Olmedo.

O presidente de Monte Real convidou você a navegar em seu«Rabisco», e o britânico encantado competiu com os de Olmedo... mesmo quando tudo não foi dourado... pois o chefe máximo da Bensonsofria de um acidente a bordo... um navio abordava-os pela popa arrancando-lhes o backstay... abaixo... e o empresário britânico à água com um bom golpe... Rafael Jr. e Leandro Olmedo saltavam imediatamente para salvá-lo... no final sofocón com final sem gravidade no pessoal... mas com muitas magulladuras...

A General Optica se celebrava em três jornadas, com saída de Baiona, travessia a Vigo, subida a Sanxenxo e posterior retorno a Baiona.

Ambiente de gala no Clube de Yates, com barcos de toda Espanha, e vitória clara do design de Jacques Faroux «Lada» que com Toño Gorostegui e Pedro Campos como responsáveis, tinha na modelação Paloma Lago a guinda do bolo.

A contratação da ferrolana pelo publicista madrileño Cifuentes de NCA, foi uma novidade a nível de imagem... como era que uma famosa formara parte de uma tripulação de elite. A verdade é que o fez francamente bem... pelo menos não incomodou a bordo, o que não era fácil a priori em um navio de sete metros e também com um nível de competição ao máximo.

Naquele tempo Lago e Javier Obregón eram namorados... ela tinha 23 ñitos recém-chegados... e era uma garota preciosa, agradável, com empatia, muito preparada e inteligente... que tinha anunciado que se casaria em 5 de outubro com o irmão da famosa atriz madrileña.

A anedota que o Obregón aparecia em Sanxenxo, e estava ao parecer algo«moqueado» com a relação profissional de Paloma e Pedro Campos... fruto do qual esteve indagando entre copa e copa, entre o pessoal presente na noite do Zoo "se havia algo estranho... ou seja "se havia tema"... entre o cachondeu geral de alguns.

No dia seguinte se cerraba a General Optica em Baiona, com a vitória holgada do «Lada» em que ele saiu Paloma com Pedro e Toño a pegar o prêmio... muito sensual... muito in... recebendo muitos aplausos... mas a senhora mais jaleada era uma da casa... a esposa de Castor Alonso padrão do «Sony» que, na opinião do respeitável, teria sido sem dúvida Miss Regata, se tivesse havido uma votação a respeito, claro.

Após «Toño & Pedro» situavam-se "Salao BBV" de Fernando León e "Bombai Gin" de Javier de la Gándara, esponsorizado por Chema Ullivarri, que estava muito iludido com o projeto.

Na classe cruzeiro, levava-se a vitória «Albariño Granbazán» com Carlos Monclús de padrão e Fausto Núñez de táctico. Este Contention-33 era o pesadelo dos barcos cruzeiro-regata naqueles distantes anos, e o ganhava tudo em sua categoria.

E turno para o Troféu Conde de Gondomar que tinha faixa de Campeonato de Espanha de Quarter Ton... e em que seria necessária a «selecção para escolher quais 10 navios comiam a equipe espanhola»... parecia incrível que se reunissem 15 «quarter» pelo nosso país... isso provocava que cinco se tivessem que ficar fora.

No "Gondomar" ganharia "Cote" com Jaime Rodríguez Toubes, o campeonato de Espanha seria para "Bombay Gin" de Javier de la Gándara que navegava com José Cristos, Púas Retolaza, Jaime Arbones e Juan Bravo... Por certo, ameudo pitorreo ao redor deste magnífico regatista, pois ao parecer ao francês Jean Claude Ramón que era o armador do "Sanifló"... que competia com o nome de "Lada"... adorava estar muito cerquita de João... e já sabem o mau leite que há na vela... Jean Claude também era um virtuoso do "clarinete" e o tocava todos os dias ao acabar as regatas... a piada fácil era a tônica, quando se aproximava a "sesão de clarinete"...

No tema «selecção» o bombaço... que o grande José Luis Freire... "Tibu"... ficasse com seu "Pairito" fora da equipe de Espanha, não tinha desperdício, no que a «cachondeo fino» refere-se.

O quarter ton era o "Piraña" italiano que havia comprado a Carmelo Sabastano, um dos armadores mais significados do Círcolo da Vela de Venezia... que seria à sobremesa, um personagem muito querido na década dos 90 em Baiona... ao que até chegou a patrocinar a empresa «Marfrio», da qual era sócio e diretor geral, Freire.

A solução de "Pairito" para estar no Mundial, passava por competir na equipe de Portugal, que tinha várias praças livres... mas claro a tripulação tinha que incorporar dois lusitanos e descer a dois gallegos... e o padrão oficialmente pelo menos foi Tiago Roquette... filho do lendário padrão que atualmente é o presidente da Federação Portuguesa de Vela.

Não é preciso lembrar o "puteu" geral para o inventor da "pastilha Odio-2′′... diziam-lhe "Tibu genial,menos mal que te resta Portugal para ir ao Mundial!"

A Infanta Cristina participava com o Don Algodão, com Viky Fumadó, Theresa Zabell e Natalia Via Dufresne... que na regata longa ao Carrumeiro Chico produto da espessa nevoeiro e dos baixos provocou uma preocupação na Organização... e mesmo na Casa Real... numa noite que se fez muito longa.

Ao navio das "ninhas", seguia muito de perto uma patrullera da Armada Espanhola, mas quando se adentró na zona complicada de Corrubedo não pôde se aproximar tanto da costa como do pequeno "quarto de tonelada", e entre a distância e a persistente nevoeiro... perdia o controle visual, como era lógico.

Felizmente, ao amanhecer, o navio deu sinais de vida... me lembro sem dormir no escritório do Sollado de Monte Real com meus companheiros de organização, recebendo várias chamadas de Zarzuela.. tentando não causar alarme... dando uma versão otimista do problema... Garanto que têm localizada à Infanta?...tranquilidade por favor que tudo está sob controle!...

A anedota com as primeiras luzes do dia muito perto de Finisterre... inmersas no nevoeiro a tripulação vê um barco pequeno de pesca e perguntam-lhe Estamos muito longe do Carrumeiro?... e o padrão da pesca, surpreendido lhes diz: Ti neniña és a filla do Rei, não?... se lhe respondeu Cristina... e o pescador indicou-lhes acolhonadíssimo que tinham o farol já muito perto.

Na Copa do Rei impunha-se na classificação individual o três quartos desenhado por Bruce Farr "Lone" do dinamarquês Jane Bondenilsen... enquanto a classificação por países era para a Alemanha, sendo a prata para o combinado Espanha B, formado por "Banco Atlântico" de Pedro Campos, "Inespal" de Toni Tió e "Lone".

O escândalo que se incluisse a "Lone" na equipe espanhola, quando somente tinha dois tripulantes nacionais. A indignação foi tal em Palma, que ao fato se deu muita importância em meios nacionais, que qualificaram a situação, como uma vergonha... O pessoal carregou as tintas contra Javier Romero que era o medidor chefe da Espanhola.

E vos perguntareis... e o Milmi?... pois havia estado em todos os fregados metido... mas desde a finalização do Mundial de Motonáutica, havia estado o que diz discreto... ao seu... e apoiando o Mundial de Quarter Ton de Baiona, muito centrado... isso foi levado ao Porto de Santa Maria a 52 piés "Abracadabra", um navio que adquiria em união de seu então inseparável amigo e sócio, Pedro Paulo Parrado.

Suevos com a Semana Náutica à vista... in extremis conseguiu convencer ao diretor de marketing de Porto Sherry que era então Oscar Iniesta, para que patrocinasse seu maravilhoso barco... e o convenceu!... que se chamou por alguns dias no «Brent Walker Espanha», multinacional que era o máximo accionista do esplêndido porto desportivo portuense.

Com o catalão Jan Santana à cana competiu naquele ano na Semana Náutica do Porto que já começava a ficar com um único sobrenome: Osborne.

A luta pelo primeiro posto a cargo do também 52 piés «Bobadilla Grande Capitão» Pedro Campos que ficou com o "catavino de ouro", seguido de "Inespal" e do navio de Milmi... por certo numa das provas na baía de Cádiz, num meio inimaginável: vento franco de 15 nós, marejadilla e 35 graus... saída em popa... e lição magistral de Jan que partindo de barlovento com um controle milimétrico, deixava Campos surpreendidos... tocando com a relinga de seu spi a linha imaginária, de saída... é das cenas mais belas que vi nos meus muitos anos na vela... por certo o «Zorongo» de Ignacio Jáuregui del Marítimo del Abra, Contra prognóstico não ganhava o catavinho de cruzeiros, tendo-se que conformar com o terceiro lugar.

A Semana Náutica nos 80 e 90 foi sem dúvida alguma a regata mais importante de Espanha: excelente organização, cerca de 100 navios de toda Espanha e Portugal, a incomparável baía de Cádiz... e a parte social que era simplesmente única... acompanhada da guasa gaditana que«Não se pue águantá».

E uma imagem para a memória, pela tristeza e preocupação que nos invadiu os milhares de espectadores e participantes do Sherry quando a saída da última manga, aplaudo-se por espaço de alguns minutos para que o protaaviões «Principe de Astúrias» partiera da Base Naval de Rota, rumo ao Golfo Pérsico... onde começava a Guerra do Golfo... pela noite cerimônia de encerramento nas espetaculares instalações ao ar livre do Clube de Golf de Vistahermosa.

Os meus colegas de mesa de partilha, entre os que estavam José Luis Suevos e Pedro Paulo Parrado, assistiam comigo a uma discussão entre os máximos expoentes da Organização, que nos tocou muito perto... até que José Antonio Osborne me disse: "Nós decidimos você fazer de apresentador do ato"... anti minha negativa, avisaram-me que era o chefe de imprensa e só tinha que obedecer, mas nunca discutir a ordem... e lá tive que preparar a toda pressa o ato, que não era uma brincadeira... de entrada apresentar a um esplêndido e famoso guitarrista andaluz que era o que dava a entrada do jantar, com um concerto de filme.

Era muito forte ver um gallego, apresentando um guitarrista andaluz de elite... me prepararam com gomina no cabelo e vestido de preto, em plano gaditano a mais não poder e dissimulando tudo o possível mi «asento das Galias».. Ficou gravada a apresentação na minha alma... "... ele acompanhou Antonio Mairena... senhoras e senhores com todos vocês o mestre Antonio Núñez!", e me saí bem, isso sim ao longo do jantar, o choteu de Suevos e Parrado foi de órdago.

E do Porto rumo norte, não sem antes coletar o apoio de Toño Gorostegui para convencer Juan Carlos Rodríguez Toubes que subiera o «Hispania» O príncipe das Astúrias... quase conseguimos... quando o cântabro lhe disse: «João Carlos te subo eu»... mas no final compreendemos que não era tão fácil a operação. Estávamos naquela «capea que organizava Joselito Escrevano» nos arredores do Porto... onde o Fino Quinta e o picoteu, em união do espetáculo faziam mágica a noite.

Em Baiona era o ambiente era o das grandes ocasiões... me chegavam dados de que 50 navios inscritos no Mundial... ao que me tinha ido voando... pois aos meus senhores daquela não gostaram, mas que nada, que trabalhasse uns dias no Porto de Santa Maria, dentro da equipe do grande mestre que sem dúvida é Nicolau Terry... pela proximidade da Quarter Ton.

(continuar)

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