Apresentação da obra de Antonio Carrillo sobre o «léxico dos pescadores almerienses»

Apresentação da obra de Antonio Carrillo sobre o «léxico dos pescadores almerienses»

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Antonio Carrillo Alonso, con toda la mar detrás... su reciente obra, "El léxico de los pescadores de Almería de ayer y siempre, es una aportación rigurosa, singular y diferenciadora"... riquísimo inventario lingüístico de la memoria colectiva de los marineros con más de ochocientos vocablos y frases

Antonio Carrillo Alonso, com toda a mar atrás... sua recente obra, "El léxico dos pescadores de Almería de ontem e sempre, é uma contribuição rigorosa, singular e diferenciadora"... riquíssimo inventário linguístico da memória coletiva dos marinheiros com mais de oitocentos vocábulos e frases

A apresentação oficial

Apresentação da Publicação
O léxico dos pescadores de Almería de ontem e de sempre
Quinta-feira, 12 de março às 19:30 horas
Salão de Plenários de Diputação Provincial de Almería

http://www.iealmerienses.es/Serviços/IEA/PublicIEA.nsf/5a6daa95983c4414c12568f600284318/
08bdee33839408eec12584d20041e7c3?OpenDocument

ENUNCIAR O MUNDO
E com ele todo o espírito humano que o define e expressa na palavra que encoraja um cosmos próprio e alheio. De certa forma, batizamos o mundo com cada palavra que empregamos. É a génese do criado e recriado. A origem ou princípio de algo que entoamos e fazemos pervivir com seu uso. E essa coisa leva corpo no som da palavra que o designa, que o faz nosso, que nos orienta para o sentido e a sensibilidade que contém e com a qual nos atrevemos a reverter nos lábios a imagem que, sonoramente, vem a eles para nos incitar a descrevê-la. Nesse pronunciamento a memória viva das palavras conforma a biografia dos seres humanos e seu incipiente manejo da linguagem, segundo que facetas emplee seu afazer, seu trabalho, seu olhar adiestrada e ajustado no rudimentar ou refinado, no especializado ou genérico, na atividade intelectual ou manual, na medida que se é leito pelo protagonismo ativo de seu exercício ou desembocadura como espectador circunstancial atraído pelas palavras, por seu modo e ademão com que se encarnam e dinamizam na corrente que flui. Em romeno e eslavo antigo, a palavra “luz” serve também para designar o mundo, já que o mundo é o que está iluminado, o que se vê. As palavras são teas acesas com as quais o ser humano descobre a consciência e identidade do mundo. Pensamento e sentimento, faça e vejas da folha que se desprende da árvore onde a sabedoria fez acópio com a escrita em forma de livro –liber, parte interior do córtex das árvores –, mas que antes foi oralidade. Ou seja, a cultura popular, a sobrevivência, o ressurgimento do ancestral quanto ao sagrado e cerimonial. A tradição oral é nascimento, rito e geografia das palavras. A pegada no ar dos nossos traços.

O LÉXICO DOS PESCADORES DE ALMERIA DE AYER E SIEMPRE
A importância desta obra reside em três aspectos fundamentais que, à margem do processo propriamente científico que uma edição dessas características requer, entroncan com o testemunho das vivências definidas no continente marinho, o compromisso irrenunciable com o tesão e a abnegação de homens que se debateram nele e a afirmação intelectual na categorização da tradição oral como vestígios incorpóreos. Daí que cada palavra seja a pequena intra-história daquela outra que não só trasluce o exercício profissional dos pescadores em suas mais variadas facetas e vertentes. É também do ponto ambiental, paisagístico, climatológico, ornamental, gastronômico, náutico, arquitetônico, histórico, anecdótico, etnográfico, etnológico, do folclore e biodiversidade marinha. Em suma, um compendio de alumbramento sobre a fala dos pescadores almerienses, mas que, de certa forma, é também como assinala o autor da cosmogonia que encerra o mar: “Os pescadores têm sido sempre um dos grupos humanos mais fortes e definidos na vida social. Eles são possuidores de um universo linguístico cheio de variedade e riqueza, geralmente desconhecido pelo resto dos falantes da comunidade a que pertencem, porque desde tempo inmemorial tem sido grande a distância entre o mundo do mar e o de "a terra" (como os próprios marinheiros chamam).

ANTONIO ALONSO
O estudo exaustivo que nos refere o professor almeriense não é fruto acomodado e exclusivo de uma pesquisa ao uso. Também não é como resultado do eco de terceiras informações ou segundos informantes e posterior adequação acadêmica. A construção desta obra léxica é consequência direta do avatar vital do próprio autor e a ressonância de seus ancestrais como norte afetivo. Mas, sobretudo, como patrimônio resgatado do esquecimento, que se torna baluarte, amparo e defesa de um tempo em que os homens e as mulheres atendiam com abnegada e vigorosa dedicação seus trabalhos em mar e terra, respectivamente, “Outro aspecto importante no pescador era seu papel na vida familiar. O fato de passar muitas temporadas fora de sua casa –geralmente nos pesqueiros norte-africanos – concedia à mulher um papel relevante na família, porque ela era a que realmente se tinha que encarregar da economia doméstica e da educação de seus filhos”. É questão maior significar esta circunstância para fazer correlação ajustada entre o conhecimento filológico e o marinheiro que professa esta obra. Este último como ascendência familiar ligada à população de Carboneras. Na introdução – de obrigada leitura para contextualizar a importância da mesma e reparar na observação preciada do viario das palavras que nos esperam –, esta determinação se imbrica e fundamenta no profundo assentimento que comporta, “As fontes de informação para a elaboração deste trabalho têm sido as mais diretas, ao ter faenado nos barcos familiares pelos pesqueiros peninsulares e marroquinos, especialmente durante as férias escolares. Aqui a familiaridade com este mundo léxico tão particular. Isso nos proporcionou bastante garantia e segurança para as definições do léxico dos pescadores, algumas delas difíceis de precisar pela complexidade que encerra às vezes o vocábulo que se define, particularmente em suas nuances diferenciais com o significado de outro termo pertencente ao mesmo campo semântico”. Esta apreciação recorrente reverte na fidelidade entre o acontecer e a expressão. Embora mantenha o compromisso com o cauce que “outras vozes autorizadas” irrigaram, entre as que destaca Manuel Alvar López.

AS REMINISCÊNCIAs DE ESTA OBRA
Editada em dezembro de 2019 pelo Instituto de Estudos Almerienses da Diputação de Almería, Área de Cultura e Cinema, encontram-se no trabalho do próprio autor publicado em 1989 no Boletim da Real Academia da Língua, sob o título Léxico marinheiro de Almería. Sua influência em outros níveis socioculturais. Passaram-se trinta anos desde então, nos quais sedimentado o poso do seu acervo linguístico. atraindo o propósito irrenúncia que vissem a luz as mais de oitocentos palavras e frases. Das que em uma porcentagem considerável -70 por cento aproximadamente - não estão coletadas pela Academia. A isso se une o estudo comparativo com outras publicações que vão desde Dicionário Hispanio-Latino (Elio Antonio de Nebrija, 1495) até o Atlas linguístico e etnográfico de Andaluzia (Manuel Alvar, com a colaboração de Antonio Llorente e Gregório Salvador, 1961-1973). A publicação contém um traço não inferior ao incluir um importante contributo ilustrativo com fotografias – na sua ampla maioria correspondem à coleção do autor – que favorecem o conhecimento. Muitas delas com valor historiográfico como a própria capa da obra. Lastima que a edição não tenha assumido, à margem das fotografias originais em preto e branco, as contemporâneas, que impressas em cor teriam estabelecido para o leitor nuances visuais ao que o cuidado texto se refere. Como são, por exemplo, as espécies marinhas, e mais concretamente as que por sua semelhança exigiriam um plus estético.

LEGADO DE BENS LITERARIOS PARA OS LECTORES
As publicações do professor Antonio Carrillo possuem como valores intrínsecos a extraordinária exigência revestida de simplicidade, o compromisso intelectual ausente de escaparatismo e a honestidade celebrada como critério. Entre elas destacam: Rumo a uma explicação sociológica do Flamenco. As coplas, uma biografia coletiva (Universidade de Granada, 1977); El Flamenco, como expressão e libertação (Almería, Cajal, 1978); A poesia tradicional no cante andaluz. Das jarchas ao cantar (Sevilla, 1988, Biblioteca da Cultura Andaluza, no 78, com prólogo de Emilio García Gómez); Gustavo Adolfo Bécquer e os cantares de Andaluzia (Madrid, Fundação Universitária Espanhola, 1991); e Fernando de Herrera, Góngora e Soto de Rojas: sua relação com a lírica arabigoandaluza (Diputação de Sevilha, 2008). A elas se unem Pescadores do Sul. Orilhas de Carboneras (Arráez editores, 2013) de gênero narrativo, e A pesca em Almería (1900-1976). Importação das famílias marineras de Carboneras, Estepona e Ilha Cristina como pontos migratórios (Arráez editores, 2017), um amplíssimo documento científico, que junto a esta última compõem uma trilogia, onde a linguagem adquire o mistério cifrado daqueles homens que anduvieram sobre as águas como Jesus, o marinheiro que em Pescadores do Sul reflete desta maneira, “a mar abre as carnes por toda parte e ensina os homens a ser homens”, segundo ele mesmo dizia. Aquele mar que lhe fez compreender que talvez seria necessário que as pessoas sofrassem as injustiças para poder chegar a ser justos (...) Seria tão bom poder querer as coisas sempre com o coração. É o único que temos todas as pessoas e meralo...-se disse em voz baixa”. Voz que boatos nos descobre um luciente mundo de palavras marineras.

© Pedro Luís Ibáñez Lérida

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