José Luis de Ugarte, o navegante espanhol por excelência do século XX

2019 05 05 Destacado História Vida Marítima

José Luis de Ugarte nacío na localidade vizcaína de Getxo em 6 de novembro de 1928. Embora sua paixão fosse sempre o mar e a navegação, como marinheiro profissional que foi, a verdade é que Ugarte se tornou famoso na especialidade de navegante solitário já avançado em idade. Seus primeiros passos na elite foi em 1979, sendo o primeiro espanhol a participar na BOC Challenge, considerada sem discussão a regata mais importante a nível internacional para navegantes solitários. Já em 1992 e 1993 culmina a Vendée Globe, sendo galardoado em 1996 a nível do Estado Espanhol, quando S.M.Don Juan Carlos I, lhe impõe a Medalha ao Mérito Deportivo.

Ugarte faz a "mili" na fragata Martín Alonso Pinzón. Depois de estudar Náutica, navega na marinha mercante e espanhola e inglesa. Depois de um tempo desembarca em Liverpool, onde se casa e se estabelece, a par se estabelece como provisionista naval. Ali adquire um velho pesqueiro, o Orion Iru, embarcação que se leva a seu Bilbao realizando nele, uma vez remoçado, a que seria sua primeira travessia como navegante solitário.

O «Orion Iru».

Ao longo dos vinte anos seguintes, suas aventuras vão sendo cada vez maiores. Sua primeira participação em regata foi na Falmouth-Azores-Falmouth, em 1979. Cubriu com sucesso o traçado das 2400 milhas náuticas do evento conseguindo a segunda posição. Com esta gesta consegue se classificar para a legendaria Ostar em 1980, uma regata duríssima que contava com um percurso de 3000 milhas, com saída em Plymouth e chegada à costa norte-americana, a Newport. A desgraça quis que se partisse do stay de proa a seu Northwind quando ia em primeira posição, o que o obrigou a desviar-se dos Açores para reparar a avaria. Quatro anos depois voltou a esta regata, ficando terceiro.

O impulso para maiores desafios é recebido em seu retorno a La Azab, ganhando em todas as categorias. Quando obteve um meritório terceiro posto em monocascos na Carlstar 88. No horizonte apontava já a BOC Challenge 1990-1991, uma volta ao mundo em solitário dividida em quatro etapas, na que conseguiu o mais importante, que não era outra coisa que terminar. No entanto, a verdadeira gesta, estava por chegar, e foi a que pôs em boca de todos o nome deste homem de outro tempo, émulo de imaginários Achabs ou mais reais Shackelton ou Ad-mundsen. Seu nome: Vendée Globe 1993, uma nova volta ao mundo solo, mas nesta ocasião sem escalas e sem ajuda externa, uma prova qualificada por muitos como suicida, uma verdadeira descida aos infernos, a regata mais arriscada de todos os tempos. E ali, com 64 anos, caminho dos 65, decidiu José Luis que estava seu lugar.

José Luis Ugarte no Museu Naval de Bilbau que tantas horas e horas dedico em seu lançamento. Ao fundo no vara-expositor do Museu o BBK com o qual conseguiu completar a Vendee Globe em 1993, passando a fazer parte da mitologia dos navegantes mundiais.

Quando, após 135 dias de regata, regressava ao porto francês de Les Sables d’Olonne com sua destartalado Euskadi Europa 93, nem mesmo o apoteósico recibimento, que lhe deu uma multidão que aguantou estoicamente o mau tempo para agasajarle, libró de sua cabeça os terríveis momentos vividos, que se foram conhecendo com contagotas. Dois companheiros de regata mortos, uma via de água em seu navio que lhe fez pensar séria e friamente na morte, escassez de víveres e ausência total de vento que lhe reteve sete dias no Equador e que esteve prestes a acabar com ele psicologicamente, levaram Ugarte a se expressar com meridiana clareza, em meio ao gentío, após o abraço com sua mulher Edith: "Não era tão forte quanto acreditava"Ele disse de si mesmo. “É um teste desumano. Nunca mais; é algo que só pode ser feito uma vez na vida”... se tiver sorte de poder contar isso.

Onze anos depois, Ugarte, José Luis, volta às andadas náuticas. Olhando de reojo o Euskadi Europa 93, preso no dique seco do Museu Marítimo da Ría de Bilbau como testemunha de seu feito, sente novamente a chamada daquele mar que nunca abandonou e na que viveu até o nascimento de seu neto.

José Luis Ugarte com Don Juan Carlos na entrada do Real Club Marítimo do Abra.

Embarcado a partir de 22 de outubro, volta a se sentir o curtido e veterano lobo de mar que figura no imaginário popular. A aposta volta a ser dar a volta ao mundo (e vão quatro); desta vez, seguindo a pegada do mais importante marinho basco, de sua terra, Juan Sebastián Elcano. A bordo de uma réplica modernizada e com motor de auxílio, da histórica nao Vitória. Isso sim, nada de solidão. Para a ocasião, cercau-se de um grupo de 20 pessoas, entre especialistas marinheiros e cientistas, que farão mais levadeira a monotonia ao redor do orbe pelo grande azul. Esta réplica foi construída para a EXPO 92 de Sevilha, pela Fundação Nao Victoria.

José Luis membro de um dos clubes com maior prestígio do mundo: o Real Club Marítimo do Abra-Real Sporting Club de Las Arenas, nas quais foi nos anos 80 e 90 seu Comodoro. Seu trabalho como diretor foi excelente, sendo o criador da Regata Costa Vasca de Cruzeiros (regata de cruzeiros mais importante do Clube), bem como impulsor da Copa Gitana como evento dedicado aos barcos clássicos, e das regatas de solitários em El Abra. Em sua honra o Clube deu seu nome à excelente Escola de Vela, e todos os anos no mês de setembro se celebra em Getxo "A Semana de Vela José Luis de Ugarte", reservada à vela base fundamentalmente. Ugarte nos deixou em julho de 2008 após uma doença penosa, mas seu exemplo como navegante e sua qualidade humana, estarão sempre presentes para os fãs da vela.

A Semana de Vela José Luis Ugarte de Las Arenas é uma homenagem anual da vela espanhola à figura do grande navegante basco, na qual participam mais de 300 navios de vela leve e que organiza o Real Club Marítimo do Abra-Real Sporting Club, da mão de Eduardo Santamarina.