
Calendário de Vela de Cruzeiro da Espanha: crônica de uma morte anunciada
Calendário de Vela de Cruzeiro da Espanha: crônica de uma morte anunciada
Quem te viu “vela pesada espanhola” e quem te vê... Lembram-se daquela piada já velho em que chegava uns rapazes a falar com sua gangue, magullados, ou seja com um bando disso no corpo... e que ante a surpresa dos que não tinham ido com isso lhes prejuram?... Mas o que aconteceu, se érais mais de vinte e dois ou três? Mais de um dos veteranos perceber-se-á o que quero dizer, de quem foi um dos culpados que levássemos para onde chegámos, e que o panorama da vela pesada espanhola está ao nível que está... campanhas publicitárias e derroches de dudosa rentabilidade à margem.
Estamos em 1980, e na Espanha há dois polos claros de vela pesada: um o Real Club Náutico de Barcelona e outro o Real Club Náutico de Vigo. Os catalães que sempre ou quase sempre foram em vela pesada os que mercavam o rumo, tinham muitas coisas a seu favor... por uma parte a maior cidade costeira da península: Barcelona, por outra duas regatas com um enorme peso específico caso do Troféu Conde de Godó e o Afonso XIII... e, claro, o Troféu Internacional do Mediterrâneo que posteriormente seria a Copa do Rei em Palma, e sem esquecermos das Mil Millas A2... em águas andaluzas, sobretudo pelo apoio da frota do norte, fazia-se poderosa a Semana Náutica do Porto de Santa Maria, na que Coly Terry tanto teve que ver em seu desenvolvimento. Se quiserem, podemos incluir nestas regatas às séries de cruzeiro da Princesa Sofia em Palma... e é claro à Regata Rías Baixas que foi durante muitos anos a number one, e a um emergente Troféu Conde de Gondomar... que organizava um clube "novo" o Monte Real Club de Yates de Baiona.
As referidas regatas tinham algo em comum: vontade de ser prestigiadas em toda a Espanha e fugir dos localismos. Era uma delícia presenciar aqueles "Sherry", ou as numerosas "Rias Baixas" ou ver a qualidade muito anglo-sajona do "Trofeo Conde de Godó" ou "Conde de Gondomar". Entre todas elas aquela inesquecível Regata Volta a Espanha Bitácora, que organizaram Federico Arias, José Ramón Guimarans... e na que muito tivemos que ver Afonso Jornada, Coly Terry, Fernando Arranz, Toni Tió, Jan Santana, José María Lastra, Javier Gándara, Pedro Campos... e até um servidor que foi o que teve a ousada ideia no ano mundialista de 1982, em um artigo que publicou a desaparecida revista Remar, e depois Bitácora.
A publicidade começava, e os que a manejamos com maior ou menor acerto, o fizemos com muita ilusão, muita juventude e sobretudo muita confraternidade. Já nos 80 nascem patrocinadores espetaculares, que se consolidam nos 90 como General Optica, Ermenegildo Zegna, Bombay Gin, Inespal, Antonio Puig Perfumes, J&B, Banco de Bilbau Vizcaya, a CAM, o Governo Basco, Coca Cola, o Casino do Porto de Santa Maria, a revista Biba, Cabreiroá, Larsa, Albariño Granbazán, o diário El Sol, Volvo, Cepsa, Cutty Sark, Whisky Langs, Galiza Qualidadee, Turgalicia, Rioja de Espanha, Fortuna, Silk Cut, Saab, Porsche, Rolex, Cartier, Cantabria Gran Reserva, Glenfidich, Ryder Cup, Port Aventura, Carolina Herrera, Agua Brava, Don Algodão, Lada, Adolfo Domínguez, El Corte Inglês, Salamanca Oasis Golf, Albariño Valdamor, Fonte Vella, Onça de Ouro, A Onza de Ouro, Banco Atlântico, Bobadilla Gran Capitão, Bodegas Martín Códax, Azpilueta, Baileys, Iberia, La Casera, Freixenet, Champagne Mumm, Estrela Galicia, Companhias Argentina
Não é exagero falar de que esses equipamentos de regatas em muitos casos eram 25 pessoas por equipe... 25 profissionais que geravam muito dinheiro, que ingressavam IVA, que pagavam segurança social... e por que foi tudo isto a pique... pois muito simples POR FALTA DE PROFISSIONALIDADE... porque qualquer gerente de três ao quarto acredita-se que a habilidade organizacional de Coly Terry a tem qualquer um de seus sobrinhos... ou que os conhecimentos jornalísticos de Jauma de Soler é o normal em qualquer chaval que um dia fez uma crônica em um jornal de províncias de sua escola... ou que aquela amiga do filho que tira fotos, tem a qualidade de Maria Muiña... ou não sabe que não é o mesmo Luky Serrano de Diretor de Regata que um monitor riquiño, companheiro de escola de filho do comodoro... ou que não respeita aos meios que apoiam a vela aos que devem dar-lhes de "comer" com publicidade de apoio, para que nos possam ajudar... ou que não valorizasse os profissionais dos meios generalistas, como Pedro Sardina ou Gerardo Riquelme ou no seu dia Miguel Angel Roselló e Raúl Andreu, fizeram pela popularização da vela de cruzeiro...
Se queremos voltar a ter um pedaço de círculo de regatas e ter patrocinadores como os do passado, NÃO VALE LO DA CRISIS, NÃO VALE AFIRMAR O QUE NÃO NOS APOYAN OS MEDIOS... o que vale que todo este circo da vela, respeite os seus profissionais respeitáveis, Que habelos hailos!
Manuel Pedro Seoane
Náutica Digital
Profissional da náutica como organizador de eventos desde 1979
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