
A Marinha Espanhola qualifica de "decepcionante" a atitude de Colau para Cervera
A Marinha Espanhola qualifica de "decepcionante" a atitude de Colau para Cervera
As manifestações da prefeitosa de Barcelona, Ada Colau, por motivo da mudança de nome na rua dedicada ao Almirante na Cidade Condal pelo do humorista satírico galaico Pepe Rubianes, levantaram ampolas não só na Armada Espanhola, mas nas pessoas do mar, amén de em geral e em grande medida dos cidadãos espanhóis.
Suas dedicatórias de «fascista» o glorioso almirante espanhol, quando o «fascismo não existia», são comparáveis a que a senhora deputada Colau afirme que herdou dos seus avós um crucifixo de prata do século II antes de Cristo... as evidentes limitações intelectuais da mandataria barcelonesa, não a eximem da gravidade e das suas consequências, de todas as barbaridades que saíram por sua boca neste tema doloroso, falto da mais mínima cortesia institucional e da educação que um personagem público de sua importância, deveria possuir.
A Marinha Espanhola tem tornado público através de seu AJEMA, o almirante Teodoro López Calderón, este escrito em que com grande qualidade e rigor histórico se demonstra a grave equívoco de Ada Colau, nos comentários vertidos sobre a memória de Páscoa Cervera e Topete:
«A Marinha, como instituição secular, cujos valores e tradições foram forjados através de uma longa história, tem a obrigação de garantir o bom nome e a honra dos seus membros, especialmente daqueles que se distinguem por algum fato relevante enfrentado com dignidade e espírito de serviço.
Recentemente, a Câmara Municipal de Barcelona tomou uma decisão que afeta o vice-almirante D. PASCUAL CERVERA TOPETE, Comandante da Esquadra de Operações das Antilhas durante os fatos que deram lugar à perda de Cuba como território espanhol, que, segundo o informado nos meios de comunicação, se baseou em uma avaliação negativa da atitude do almirante que danifica a sua honraabilidade e respeitabilidade.
A Marinha guarda as folhas de serviço de seus membros ao longo da história, nas quais constam os fatos contrastados de sua atividade durante seus anos de serviço. Ante o qualificativo dado ao almirante pela autoridade da Prefeitura de Barcelona para justificar sua decisão, aporto uma breve resenha sobre este insigne marinho, conforme os dados históricos que constam nos arquivos da Marinha:
Nace D. Pascual em Medina Sidonia, Cádiz, em 18 de fevereiro de 1839, ingressando no Colégio Naval Militar de San Carlos (San Fernando, Cádiz) em 30 de junho de 1852, quando só contava com a idade de 13 anos, e recebendo seu escritório como alférez de navio com apenas 21 anos.
Se a dilatada e brilhante folha de serviços de D. Pascual Cervera Topete forem reavaliadas, não há dúvida de que podem ser encontrados sinais de lealdade, valor e sacrifício para o serviço à Espanha. A primeira prova disso foi sua ascensão a tenente de navio por mérito de guerra durante a sua estadia nas Filipinas os primeiros anos de sua vida militar, na luta contra os rebeldes malaios e nos combates que se desenvolveram durante os assaltos aos fortes da Cotta de Pagalugan, defendendo a pátria e reprimindo a pirataria filipina e joloana que se levava pela frente vidas e fazendas.
Também durante a sua primeira estadia nas Filipinas levantou cartas náuticas nas costas intrincadas e perigosas, bem como socorreu náufragos e pescadores em perigo.
De volta na Península, entre 1865 e 1868 esteve a cargo da formação de guardasmarinas. Sendo capitão de fragata, participou ativamente na luta cantonal, defendendo a Primeira República espanhola, tanto em Cartagena quanto em Cádiz, sendo nomeado benemérito da Pátria.
Posteriormente voltou às Filipinas, onde exerceu o comando da corbeta “Santa Lúcia”, intervindo em ações de guerra em Mindanao, e em 1876 foi nomeado governador da ilha de Joló.
De novo voltou à Península e ocupou diversos cargos no Ministério da Marinha. Em 1879 foi comandante do navio escola de guarda-marinas e em 1880 foi nomeado comandante militar de Marina de Cartagena.
Posteriormente, sendo presidente da Comissão de construção do couraçado “Pelayo” e durante a sua estadia em França, foi-lhe concedido a condecoração da Legião de Honra francesa.
Entre 14 de dezembro de 1892 e 23 de março de 1893 ocupou o cargo de Ministro da Marinha em um governo liberal presidido por Sagasta, o que evidencia que o Almirante Cervera tinha um pensamento certamente liberal para sua época. Na legislatura de 1893-94 foi eleito como senador por Cádiz, sendo durante este período Chefe da Comissão de Marina de Espanha em Londres.
Após este parêntesis em sua carreira militar, voltou ao serviço ativo em postos da Marinha e em 1896 foi nomeado Comandante Geral do Arsenal da Carraca (San Fernando, Cádiz).
Mas, acima de tudo, D. Pascual Cervera Topete é conhecido e será lembrado pelo cumprimento do dever durante a defesa de Cuba contra as pretensões dos Estados Unidos em 1898, obedecendo as ordens recebidas de enfrentar o inimigo ainda conhecendo a inferioridade em que se encontrava a esquadra espanhola em relação à da Marinha de Guerra dos Estados Unidos, o que supôs a perda da esquadra sob seu comando e dos territórios espanhóis em ultramar.
Após a perda da esquadra em Cuba, foi feito prisioneiro pelos Estados Unidos, junto com os sobreviventes das dotações de seus navios. Ao voltar a Espanha e após o sobreseimento da causa (consejo de guerra) que se incoara pela perda da esquadra em Cuba, na legislatura de 1903-04 foi nomeado senador vitalício.
Em 1902 foi dado o primeiro cargo público após a Guerra, Chefe de Estado Maior Central da Marinha, que seguiriam, em anos seguintes, o de membro do Conselho Supremo de Guerra e Marinha; Capitão Geral do Departamento Marítimo do Ferrol; Chefe da Jurisdição Central e Presidente da Junta de Adjudicação dos navios da nova esquadra em projeto.
Faleceu em Porto Real (Cádiz) em 3 de abril de 1909, tendo atingido o grau de vice-almirante. Desde 19 de junho de 1916 seus restos descansam no Panteão de Marinos Ilustres de San Fernando (Cádiz), ao se considerar que D. Pascual Cervera Topete foi um herói para a história.
Por outro lado, e já alheio ao conteúdo de sua folha de serviços, o respeito que o almirante Cervera acordou em seus antigos inimigos está patente em lugares a milhares de quilômetros de Espanha:
As duas cidades mais importantes da República de Cuba exibem bustos do almirante Cervera, sem nenhum tipo de complexo. Um se encontra no Castelo do Morro de Santiago de Cuba (desde 2005) e o outro no Castelo da Real Força, de Havana (desde 2012).
Em 2015 o governo cubano organizou uma homenagem aos marinheiros espanhóis caídos na Guerra de 1898, na costa oriental de Cuba. A 12 metros de profundidade, no pecio onde repousam os restos afundados do Cruzeiro “Almirante Oquendo” colocou-se uma tarja (lápida) de bronze, e dois submarinistas, um catalão e outro basco, depositaram uma coroa de laurel em torno da mesma, como reconhecimento dos cubanos aos marinhos espanhóis mortos no combate contra a Marinha dos Estados Unidos.
Para a Marinha foi decepcionante o tratamento e o qualificativo dado ao almirante Cervera pela autoridade municipal de Barcelona, cidade de grande tradição marinera e muito ligada à Marinha, com a qual sempre manteve uma relação de afeto e cooperação próxima".
AG. Teodoro López Calderón
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