Volta ao Monte Real Club de Yates de Baiona 18 anos são muitos anos
Volta ao Monte Real Club de Yates de Baiona 18 anos são muitos anos
Volta ao Monte Real Club de Yates de Baiona 18 anos são muitos anos
É o mês de dezembro de 1979, a companhia pesqueira da que era então seu gerente em Cádiz aluga à Pescanova de Don José Fernández López seus dois congeladores... são momentos duros... com aquele governo instável de UCD presidido pelo bom de Adolfo Suárez... são tempos nos quais a direita centrista se escora muito para a esquerda para conservar o poder... são para a pesca tempos convulsos com os apressões em águas marroquinas, a expulsão das águas norte-americanas de Boston, o início incerto das pescarias das Malvinas ou das sociedades mistas...
No meio de toda esta penúria económica com uma inflação que ultrapassa 15% ano depois de ano!, por dizer-lhe-ia aberta e claramente fico sem trabalho. Um bom amigo membro histórico do Partido Comunista é nomeado prefeito de São Fernando pelo Partido Socialista da Andaluzia, e me oferece ser o Concejal de Limpeza da populosa cidade gaditana... ao mesmo tempo um grande galego ao que não tinha o prazer de conhecer... Afonso Paz Andrade envia-me uma carta e disse-me que tenho trabalho numa pescaria no estrangeiro da Pescanova... fala-me de Moçambique, fala-me da Irlanda...
Já estamos em plena Natal do distante ano 1979 quando Don Afonso dá uma volta de 180o... “Eu vou te propor como gerente do Monte Real Club Internacional de Yates de Baiona, clube do que sou seu vice-presidente”... sabe do que eu falo? «ni ideia»... a vela é o único esporte ou um dos poquísimos que não pratiquei... em uma semana o grande Rafael Olmedo me dá sua confiança e sua amizade... tendo a ousadia de me nomear seu comandante em chefe, quando não tinha nem titulação para dirigir um pequeno vaporcito pesqueiro...
Meus começos são duríssimos: problemas com o pessoal muito acostumado a não ter um chefe em condições, problemas econômicos com zero movimento de parceiros, não há patrocinadores, temos dívidas significativas que vinham daquela Regata Bermudas Bayona de 1972 e do Mundial de 420 de 1978...
Na minha aparente solidão tenho desde o minuto o apoio de outros dos grandes, como Jesus Valverde Viñas, José da Gándara... a directiva me arropa e terminamos sendo em muito pouco tempo amigos, como se de toda a vida nos conhecássemos... Há um ano e já muita gente quer ser sócio do projeto clube... o Monte Real volta ao seu prestígio de antiga e entre todos sob a batuta de Rafael Olmedo conseguimos começar a ser o clube de moda.
Em Baiona nasce a Regata Volta a Espanha, em Baiona cuece o mais significativo do que se pode cocer naqueles anos... depois vem a Regata das Autonomia, os Prêmios Nacionais de Vela, a Regata General Optica, o Open de Espanha, a Semana de Baiona, o Troféu Príncipe das Astúrias...
Somos uma grande equipe de colaboradores ao longo de vários anos em que lutamos por ser o number one. Vem anos dorados de patrocínios, de grandes padrões como Campos, Gándara, Lastra... o Monte Real tornou-se o «jefe» Como diria Fernando García Tobío... Conseguimos gerar o primeiro Desafio na história da vela espanhola pela América ́s cup!... organizamos vários mundiais de level class extraordinários... por sua parte Manuel Fernández & Charo Andrade, com o apoio de Francisco Quiroga e Javier da Gándara situam o «Pescanova» Na Volta ao Mundo com uma tripulação repleta de galegos: o bronze é o prêmio...
Em pleno sucesso no início de 1999 por motivos que não vêm ao conto desta história firmo pelo clube que desde que o conheci levo dentro do meu coração: o Real Club Marítimo do Abra-Real Sporting Club.
O amor do Monte Real para o meu, torna-se em mal-estar e em tacharme a algo parecido a ser um "traidor"... c’est la vie... são anos e anos de afastamento, nos quais o que a nostalgia e a extrañeza pela situação me invadem... são anos em que apesar de ter deixado meia vida entre aquelas muralhas milenares, não sou tratado adequadamente...
Mas o tempo cura tudo e este ano voltei ao Monte Real com normalidade após uma ausência prolongada no tempo de 18 anos!, para organizar os eventos que puseram ponto e final à Semana Abanca 2017... Tinha alguma curiosidade de como seria recebido pelo pessoal que ainda continua trabalhando lá, que sentiria ao ver de novo as instalações, que seriam minhas emoções...
Para minha surpresa nada destes medos ou dúvidas ocorreram, simplesmente porque o meu Monte Real já não existe. Meu Monte Real era um clube fantástico com um presidente enorme, grandioso como Rafael Olmedo. Meu Monte Real era aquele de Papai Jesus, de José da Gándara ou de Solano. Meu Monte Real era o de Pérez, Mario, Lijó, Enrique, Mosquera, Florita, Almudena, Duarte, Liébanas, Angel, Florentino, Miguelito... e já quase nenhum está. Meu Monte Real era o de Olmedo, Paz Andrade, Jacobo, Piñeiro, Estanis, Carlos Soto, Tobío, Mandado... e quase nenhum pude ver. Meu Monte Real ainda é precioso, bem cuidado, com profissionais magníficos que tentam fazer o melhor possível e me professaram um grande carinho... mas o meu Monte Real passou a outra dimensão há muitos anos... a lembrança permanece imborrável na minha alma... mas é simplesmente uma lembrança, isso sim precioso e consubstancial com meu ser.
© 2024 Nautica Digital Europe - www.nauticadigital.eu